quinta-feira, 24 de julho de 2014

Nunca me disseram que bebês também demonstram sensibilidade.

       "Se o SENHOR não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela."

Salmo 127:1b

     Pessoas lindas olá! Aqui estamos novamente trazendo pra vocês um pouco dos nossos últimos dias "sumidas" rsrsrs. Foram dias bem tensos, cheios de emoções e acontecimentos que abalaram um pouco as estruturas por aqui, me fizeram pensar e repensar um monte de coisas. E é sobre isso que quero falar hoje.

Alguns dias atrás, recebi uma "visita" da Wal, minha amiga/prima fiel escudeira de todas as horas (visita entre aspas porque ela já é de casa) estávamos como sempre conversando e brincando com minha filha quando lá pelas 17h30min resolvemos ir até a padaria. Eduarda logo se animou quando falamos que era hora de "passe” (passear) e correu pra buscar o "apapo” (sapato) pra sair. Só que pra variar um pouquinho, perdi um pé da meia dela! Rsrsrs o que nos fez perder alguns minutos na procura, e quando encontrei, Eduarda começou a pedir pra colocar uma música que ela gosta no computador o que nos impediu de sair mais uma vez. Mas por que dizer tudo isso? Porque detalhes podem fazer toda a diferença!
Nós finalmente iríamos sair quando ouvi muito barulho no apartamento de baixo, muito choro, uma adolescente gritando o tempo todo que queria a tia, e a voz da vizinha tentando acalmá-la dizendo que estava tudo bem, que pelo menos ninguém se feriu. Entendi que o motivo do choro foi um assalto, desci pra ver se podia ajudar em algo e assim que abri o portão já dei de cara com uma das vizinhas me pedindo que, por favor, não saísse de casa, expliquei que ouvi o choro, e queria saber se precisavam de alguma coisa e foi quando soube da história toda. A moradora de um dos apartamentos precisou sair e deixou os filhos; um menino de seis anos e uma menina de dois, aos cuidados de duas sobrinhas adolescentes. As meninas resolveram levar as crianças pra brincar na frente do prédio, e estavam conversando na calçada quando dois homens em uma moto colocaram uma arma na cabeça do menino, e levaram o celular de uma delas. Quando os homens foram embora elas entraram no prédio aos prantos em total desespero e foi quando as vizinhas saíram para socorrer, levando os quatro para o apartamento delas. Enquanto ela me contava, eu só pensava que por alguns minutos apenas, não fomos nós. Apenas por uma meia. Apenas por uma música. Não desejava de forma alguma que aquelas crianças tivessem que passar por esse horror,não desejo isso pra criança nenhuma. Mas seria hipocrisia negar que fiquei aliviada e grata por não ter sido a minha filha. 
A vizinha disse que já haviam ligado para a polícia e para a mãe das crianças, e como já tinha alguma abertura com os pequenos que às vezes brincam com minha filha, perguntei se ela queria que os dois ficassem em minha casa até a mãe chegar. Ela aceitou, e daí surgiram os fatos que realmente me marcaram nessa história. Ao chegar à porta já ouvi a adolescente dizer em soluços: Meu pai vai me bater, vai dizer que a culpa é minha! Olhei pro rosto dela, aparentava não ter mais que quinze anos. Fiquei pensando: Que tipo de pai permite a uma filha, acreditar que ele se importa mais com um celular do que com a VIDA dela? Mas isso não foi tudo, entro e me deparo com uma cena de cortar o coração, as duas crianças sentadas no sofá chorando SOZINHAS, um garotinho que há poucos minutos teve uma ARMA apontada pra cabeça, uma bebê de apenas dois aninhos, apavorada sem entender nada do que estava acontecendo e sem NENHUM ponto de apoio. Não precisei dizer nada, assim que ela me viu veio andando em minha direção, aos prantos e com os bracinhos estendidos pedindo colo. A peguei em meus braços e perguntei ao menino se ele queria vir comigo, ele atendeu prontamente, me seguiu também chorando. Ao entrar em minha sala ele sentou no sofá e me olhou dizendo: Ele ia me matar! E recomeçou a chorar. Eu o abracei, o acalmei e tranquilizei a menina em meu colo. Mas não pude deixar de notar e de me surpreender com o olhar da minha filha, normalmente ciumenta ao me ver com outra criança, mas que parecia entender que a amiguinha naquele momento precisava mais de mim do que ela. Não chorou, nem brigou como de costume, não fez cara feia, ficou quietinha no colo de Wal olhando a menina com uma ternura, que se me contassem eu não acreditaria. Então o menino disse: E se eles roubarem os celulares dos meus amigos da escola também? Ah! Crianças... Mesmo em meio às adversidades, são capazes de demonstrar amor ao próximo. Adultos têm tanto a aprender com eles! Respondi que o mesmo Deus que protegeu e cuidou dele, iria proteger e cuidar dos amigos dele também. Oramos juntos, todos se acalmaram, e eles foram brincar. 
         Fiquei olhando para eles, e me peguei pensando: Que tipo de gente louca, coloca filhos nesse mundo doido?! Me senti culpada por ser mãe. Pensei novamente que poderia ser minha filha na mira daquela arma e de uma só vez senti medo e gratidão. Olhei pra minha filha, e a vi pela primeira vez recebendo duas crianças dentro da casa dela, mexendo nos brinquedos dela, e diferente do que eu esperava, sorrindo feliz sem se incomodar. Levando os brinquedos que ela mais gosta pra alegrar a amiguinha que ameaçava retomar o choro. Fiquei pensando no quanto ela cresceu, me enchi de orgulho pela criança doce e sensível que tem se tornado. Mais uma vez gratidão; gratidão e dor. Ao lembrar que dois seres tão pequenos tenham se deparado tão cedo com a crueldade do mundo. Dor ao lembrar que existem crianças enfrentando situações tão piores! Mais uma vez culpa, seguida da certeza de que somente Deus é capaz de nos livrar de tanta maldade, e a partir daí segurança, em saber que Ele cuida de nós, e que a sombra de suas asas mal nenhum nos atingirá. Fiquei ali, olhando pra eles enquanto brincavam, e de repente parecia que nada tinha acontecido. Eram apenas crianças brincando! Sorrindo! E sem ao menos perceber, me ensinando que a vida segue!


"Mas o que me der ouvidos habitará em segurança, e estará livre do temor do mal."
 Provérbios 1:33

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Nunca me disseram que eu seria mãe de uma bebê high need.

"Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei."
Mateus 11:28

        Considero a vida uma dádiva! Sei o quanto isso é clichê, mas é verdade. Acredito que é um presente a ser desfrutado com responsabilidade e sabedoria. E que em cada novo caminho, imprevisto, ou situação que se apresenta diante de nós, há uma lição a ser aprendida. Já diz a Bíblia que TODAS as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, e eu creio mesmo nisso! Creio que todas as coisas, sejam elas boas ou ruins acontecem com um propósito, e que a diferença não está no que nos acontece, mas no que faremos do que nos acontece, no que aprenderemos ou não. Afinal na vida surpresas são bem comuns, cabe a nós decidir como recebê-las, e na maternidade não poderia ser diferente. Minha filha foi uma dessas surpresas que Deus em sua infinita bondade me enviou. Veio na hora certa, na medida certa, do jeitinho que eu precisava! 
       Digo isto porque desde a gestação pude perceber que eu não era uma grávida "comum". Enquanto outras gestantes enjoavam de comida, eu enjoava de pessoas (tem gente que não aguento até hoje) e de cômodos da casa (ta, podem rir, eu sei que é louco, mas fiz meu marido mudar a cama de quarto duas vezes durante a gestação). Enquanto as outras gestantes cuidavam do enxoval e do quartinho do bebê eu pesquisava preço de piscina inflável, bola suíça e banqueta para parto de cócoras (mas isso é assunto pra outro post), enquanto organizavam o chá de bebê eu devorava textos e mais textos sobre parto, primeiros cuidados com o recém nascido, vacinas, e etc. Enquanto fotografavam a barriga semana a semana eu lia e fazia cursos sobre amamentação. Que fique claro, que não tenho nada contra quem faz nenhuma dessas coisas. Cada um celebra seus momentos a sua maneira, apenas não me identifico com essas escolhas. Achei por bem, me permitir procurar opções que combinassem melhor com a minha personalidade, ao invés de fazer o esperado só porque todo mundo faz. O fato é que talvez, por não ser uma grávida comum, por ser assim estranha como sempre fui eu precisasse também de um bebê incomum, e foi exatamente o que ganhei. Ganhei um bebê high need! 
     No começo da gravidez eu não tinha a menor ideia do que isso significava. Mas logo percebi que ela também era diferente. Não mexia, dançava frevo na minha barriga! Não chutava, tentava sair pelo meu umbigo! Me acordava religiosamente às quatro e meia da manhã (horário em que acorda pra mamar até hoje) com um belo chute na bexiga que me fazia ver estrelinhas e correr desesperada até o banheiro, pra depois permanecer dançando sem parar até as oito ou nove horas, e não tinha conversa, chá de camomila, música ou oração que fizesse ela me deixar dormir. Lembro de um dia na recepção do consultório da obstetra, em que ela mexeu tanto que em menos de quinze minutos minha barriga virou "atração". Todo mundo comentando, achando o máximo, e eu tímida que sou cheia daquele bom humor matinal (só que não) querendo morrer, ou pelo menos achar um buraco pra me esconder! Então ela nasceu, e logo descobri que o choro dela tinha uma frequência capaz de derrubar aviões, logo vieram os famosos pitacos: Deixa chorar pra acostumar, isso é manha, tira essa menina do colo e etc. Pautada naquela máxima de não fazer aos outros o que não gostaria que fizessem comigo, ignorei solenemente os pitacos, e me virei do avesso para atender a demanda dela. Ela não aceitava o colo de ninguém além de mim e do pai. Se ia ao colo de alguém chorava como se estivesse sendo agredida (e de certa forma estava) então nunca deixamos passar de alguns segundos. Não impedíamos ninguém de pegar ela no colo, mas se chorava (e sempre chorava) voltava imediatamente pra nós. E foi aí que ouvimos absurdos mesmo! Diziam que a culpa era minha, que não saia com ela, pensei: Não custa tentar. E passei a levá-la para passear todos os dias, mas nada mudou. Ela não me deixava sequer ir ao banheiro, demandava 24h de atenção, por mais que eu fizesse ou tentasse nada mudava e todos só diziam que era minha culpa. E como se o cansaço não bastasse era um tal de vir gente aqui sem avisar, reclamar da bagunça da casa (leia-se MINHA casa), entre outras coisas que só pioravam a situação. Quase nenhuma ajuda, mas cobrança tinha de sobra!  Procurava sempre lembrar que a minha filha era o bebê, que era ela quem precisava de compreensão, tentava lembrar tudo que estudei sobre desenvolvimento infantil, da celebre frase: Vai passar! Orava a Deus que me ajudasse a entender o que eu precisava aprender com essa situação, e que me mostrasse o que estava errado. E houve um determinado momento, em que confesso sem nenhum orgulho, que indo de encontro a tudo o que acredito já exausta física e emocionalmente, quase sucumbi à teoria da manha! Foi nesse momento que Deus me enviou o socorro através desse texto que falava sobre os bebês high need. Bebês de alta demanda, bebês que possuem uma personalidade diferenciada, e que tem NECESSIDADE de mais colo, carinho, e atenção que os outros, sem que haja nada de errado nisso. Eu podia ver minha filha descrita em cada palavra, parecia que era dela que o autor estava falando. Que alívio! Não era minha culpa! Não havia culpados porque não havia nenhum problema! 
     Ela era apenas uma criança diferente, que precisava de amor como tantas outras. A partir desse instante, pude relaxar e aprendi a simplesmente aceitar minha filha como ela é. Fechei os ouvidos de vez pros pitacos! Decidi para proteção da nossa família, não mais permitir invasões fossem elas físicas ou emocionais, dos limites estabelecidos por nós. Abri meu coração pra tudo o que Deus tem pra me ensinar através dela, e fomos cada dia mais nos conhecendo, construindo nossa história, pautada sempre em amor e principalmente em respeito. Com o tempo as coisas foram ficando mais fáceis, ela foi ficando mais independente e sociável (na medida do possível, do jeitinho dela) e eu mais segura, e tranquila tendo a certeza que temos vivido juntas tudo o que precisamos viver para nosso crescimento. 
      Hoje ao olhar para trás, talvez fizesse algumas coisas diferentes, mas no que diz respeito a minha filha faria tudo exatamente igual! Não me arrependo de nenhuma noite mal dormida, não me arrependo de nenhum beijo, abraço, carinho, ou afago, não me arrependo de deixar dormir no peito, de nenhum segundo de colo, deixei, deixo e deixaria novamente ela ficar em meus braços o dia inteiro, a noite inteira, a vida inteira se preciso for! Daria a ela o mesmo amor, a mesma compreensão que teve e tem até aqui, e só não daria mais, porque ela teve tudo que meu limitado coração é capaz de sentir. E por isso quero dizer a você mãe, que anda cansada, que tem vivido em meio a tantas cobranças, que anda pensando que errou, que amor... Ah! Amor nunca é demais! Carinho não estraga ninguém! Afeto não cria monstros, mas a falta dele traz danos imensuráveis. Você não vai se arrepender de amar seu bebê, e se alguém te diz o contrário lembre: ninguém dá o que não tem!


Que o amor de Deus seja constante em tua vida!




"Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós,”
Mateus 7:12a