quinta-feira, 26 de março de 2015

Nunca me disseram que o puerpério é um caminho sem volta.

"Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu."
Eclesiastes 3:1

* Imagem extraída do Google

  Olá amigos, como já falei várias vezes(e fica bem claro no titulo do blog) meu compromisso com vocês é contar um pouco do que nunca me disseram em relação a maternidade. Mas hoje quero ir um pouco além e falar sobre as coisas que não quero falar, e que ninguém quer ouvir. Falar sobre o que calei até aqui, sobre o que uma mãe não pode dizer que sente. Quero falar sobre um tabu chamado puerpério. Tenho visto há algum tempo algumas poucas guerreiras, desbravando esse assunto, tratando dele de forma clara e sem rodeios, e as agradeço por sua coragem. É nesse rastro que trago minha humilde contribuição, mas por um ângulo um pouco diferente. Garanto a quem tiver a paciência de ler até o fim, que será um reflexão necessária, mesmo se discordarem de mim.
 Puerpério é o nome dado ao período após o parto. Período de adaptação, estabelecimento do vínculo entre mãe e bebê, intensas alterações hormonais, entre outras coisas. Em um viés biológico seriam as primeiras seis semanas seguintes ao nascimento, já para alguns teóricos no campo da psicologia tratam-se dos primeiros dois anos. Já nesse ponto começam as incoerências que me inquietam, afinal como delimitar um tempo para algo tão intimo e delicado? Como mensurar o tempo do outro? Como entender o ritmo em que dois seres se conhecem e se descobrem? Infelizmente, sobre esse assunto, essa é a menor das questões.
 Quando minha filha nasceu decidi mergulhar de cabeça e viver intensamente a maternidade. Mas decidir isso racionalmente é muito diferente de conseguir na prática, isso porque são muitas as barreiras impostas culturalmente que dificultam esse caminho. Faço parte de uma geração de profissionais bem sucedidas em potencial, onde a maternidade muitas vezes é vista como um mero acessório. Uma geração que quer tudo pra ontem, não espera por nada nem ninguém, deseja o status de um diploma acima do amor a uma profissão, e uma estabilidade financeira que ao invés de conforto traduz a crença que as pessoas valem o que consomem. E onde o puerpério entra nisso tudo? Na contramão! Fique claro que não estou julgando quem deseja trabalhar ao invés de ter filhos, ou dizendo que não é possível conciliar maternidade e carreira, pois acredito que é sim possível, e cada um faz suas escolhas. Mas é necessário entender que há tempo para tudo, e que as vezes é preciso parar um pouco e olhar para si.
  O puerpério significa uma quebra com o mundo conhecido, e um salto rumo ao novo. É um momento de intensas transformações, descobertas,e redescobertas, momento de chorar a morte da mulher não mãe, e celebrar a mãe que nasce junto com o bebê. Momento de lamento em contraste com a alegria, mas ai daquela que ousar admitir que maternidade não te faz sentir plena e feliz o tempo todo. Ai da mãe que ousa dizer que é difícil, que está cansada, que não aguenta, porque isso o mundo não quer ouvir. Mas é assim! Confuso assim! Bonito assim! Tudo junto e misturado dentro da gente, tudo muito e tudo pouco, tudo atrativo e assustador, tudo, TUDO ao mesmo tempo. E é por isso que já nos primeiros passos desse caminho desconhecido desejamos voltar. Ser novamente quem éramos a pouco, voltar a zona de conforto, ao lugar seguro, sem perceber que voltando perderemos o maravilhoso presente que nos espera. Se nesse momento houver um apoio, um incentivo, alguém que diz caminha, continua, sem tentar guiar nossos passos, tudo fica muito mais leve. Mas na maioria das vezes em lugar de uma voz de encorajamento, ouvimos gritos desesperados que nos imploram para não prosseguir.
    Um dos sentimentos que marcaram meu inicio de puerpério foi a saudade, e que saudade eu tinha de mim! De ser novamente quem eu era, de fazer as coisas que eu tinha vontade, na hora que eu tinha vontade, sem me preocupar com ninguém. Então eu via minha filha tão pequenininha nos meus braços, tão dependente e indefesa, me via refletida naquele olhar e sabia que era nele que eu precisava estar. Dizia pra mim mesma: Foi bom mas passou, coisas melhores virão no futuro, mas hoje meu lugar é aqui. E nesses momentos que para mim eram tão doloridos ao invés de incentivo, encontrei a frase que mais me atormentou: Quando você vai voltar? Voltar? Para quê? Para quem? Trabalho, faculdade, atividades ministeriais, convívio social, para quê? Para quem? Ah! Eu queria mesmo voltar para a vida de antes mas como? Como fingir ser alguém que não sou mais? Como ignorar tudo o que mudou aqui dentro e que até então nem eu sabia ao certo? O que poderia ser mais importante naquele momento que me ver naqueles olhinhos? Como me ausentar da missão mais linda e importante que recebi do meu Senhor? Eu não pude! Não poderia!  Por mais medo que eu tivesse precisava seguir nessa estrada desconhecida, precisava saber o que havia lá na frente. No lugar onde eu estava, já não dava pra voltar, e nesse momento fomos apenas eu e Deus, confiei que Ele estava comigo e segui. Reservando-me apenas o direito de ser honesta comigo e com o mundo, e esclarecer que independente de suas expectativas, nem sempre irei atende-las.
    Nunca esperei que entendessem, e ainda não espero que entendam, apenas que respeitem meu tempo e minhas escolhas. Pois tenho aprendido em meu puerpério que o tempo é um precioso instrumento de Deus para nos levar ao centro da sua vontade, e é o tempo Dele e a vontade Dele que desejo para minha vida. Através desse tempo Deus tem me ensinado, me dado novos sonhos e projetos. Alguns dos quais Ele mesmo tem me permitido realizar, e que são a causa do blog andar meio abandonado(pra variar rsrsrs). E aos pouquinhos, vou fechando esse ciclo, deixando meu puerpério, deixando um pouco(só um pouco) meu lado mãe e redescobrindo minhas outras faces. E o coração fica apertado pela ausência, mas a minha imagem refletida naquele olhar me mostra que o que construímos até aqui é forte, e que posso ir em paz pois ela sabe que vou voltar. E hoje, as palavras de encorajamento que preciso Deus me dá através dela, e são as mais simples e doces de ouvir: "Te amo mãe!"


"Porque há um tempo para todo o propósito e para toda a obra."
Eclesiastes 3:17b

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