terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Dois anos de Maria Eduarda- Meu Relato de Parto


"Os teus olhos me viram a substância ainda informe, e no teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e determinado, quando nem um deles havia ainda."
Salmos 139:16

Assim como mudam as estações,
se acaba o frio de um inverno,
E se espalham pela vida as flores de uma primavera.
Aquele domingo foi assim, o sol pela manhã anunciava, 
Dezembro, trouxe o perfume que me faltava...
(Minha filha, Minha flor - PG - Adaptada)



   Pensei muito antes de escrever esse post, relutei muito em escrever esse post. Fiquei pensando em como tratar desse assunto sem me expor excessivamente, percebi que não há como. Pensei se valeria a pena expor algo tão intimo e profundo quanto o que vivi, para pessoas que talvez não entendam. Então lembrei que Deus não nos permite viver nada por acaso, e tem um propósito em todas as coisas, e por isso, mais do que um relato, eu quero contar o testemunho do que Deus fez em minha vida através do nascimento da minha filha.
   Eu nasci através de uma cesárea, assim como meus irmãos e primos. Nunca cogitei a possibilidade de um parto normal, sempre fui mole como todo mundo dizia, nunca lidei bem com a dor. Achava que parto era um sofrimento e que com tanta tecnologia eu não precisava passar por isso. Mas dois anos antes de engravidar, ouvi falar sobre "um tal de parto humanizado"e de como era um recurso eficiente na prevenção da depressão pós parto, me chamou atenção, achei interessante e pensei em fazer o TCC sobre esse assunto. Como já foi dito não acredito em coincidências, e sim em propósitos de Deus e sei que nesse momento eu não sabia, mas Ele já me preparava pra viver os seus planos. Então comecei a ler, estudar, e fui me deparando com a realidade obstétrica no Brasil. Me surpreendendo com as desculpas absurdas dadas pelos médicos para enganar suas pacientes e levá-las a uma cirurgia conveniente para eles(rápida e muito mais rentável). Fui descobrindo que 90% do que eu(e todo mundo) acreditava ser indicação urgente de cesárea não passava de enrolação, que o sofrimento do parto que eu tanto temia, se devia apenas a uma má assistência recheada de intervenções ultrapassadas e desnecessárias. E principalmente, que os chamados "primeiros cuidados" feitos com os recém nascidos nas maternidades deveriam se chamar primeiras torturas e que além de desnecessários já foram abolidos em países mais desenvolvidos, e por essas e outras razões, resolvi que quando tivesse um filho queria um parto humanizado.
E foi a última vez em que vi minhas unhas tão bem feitas rsrsrs
  Até que um belo dia engravidei! Mas não me planejei para isso, não tinha dinheiro para contratar uma equipe humanizada, e me restou o plano de saúde. O que para muitos seria considerado um luxo, para mim que conhecia o sistema, foi uma tragédia. E como se não bastasse, a data provável do parto era 24 de dezembro, véspera de natal. O que fazia minhas chances de conseguir um parto digno passarem de difíceis para impossíveis. Mas como diz a canção: "Quando o que era difícil se torna impossível, Deus começa a agir!" Então orei, orei e orei. Pedi ao Senhor que falasse comigo, que me mostrasse os caminhos que Ele tinha pra mim, confiei que os caminhos Dele eram melhores do que os meus, que os pensamentos Dele eram maiores do que os meus, e assim "Tudo o que eu fiz foi acreditar, eu ouvi sua voz e obedeci". 
  As obstetras que me atenderam no pré natal, concordaram em me atender em um parto normal, nunca disse o quanto estudei e que estava ciente das reais indicações de cesárea e das intervenções que não precisavam ser feitas em um parto. Preferi que pensassem que se tratava de mais uma mãe de primeira viagem, confiando cegamente nelas para ver até onde iriam. E era tão triste ver as máscaras caírem quando conversávamos a respeito do parto! Fiz o acompanhamento com uma delas até o fim da gestação mas já sabia que não seria ela a receber minha filha no mundo, dia após dia demonstrava querer me fazer cair no conto da cesárea salvadora. E eu orava, e clamava, a Deus que me mostrasse o que fazer, até perceber que Deus já havia respondido, pois quanto mais eu lia e estudava, mais encontrava evidências cientificas comprovando a segurança e os benefícios de um parto domiciliar. Mas como assim parir em casa? Tá doido? Isso é coisa de índia! Mas peraí, deixa eu ver esse vídeo, aqui... Poxa que lindo! Mas não, isso é coisa pra gente rica! Eita, mas esse casal aqui não é rico e... Nossa, que coisa linda esse parto na água! Claro, mas tem médico ali e... Ué? Não era médico? Como assim enfermeira obstetra? E pode? Poxa não sabia! AAAAIIIII QUE AMOOOOR! Foi o pai que pegou aquele bebezinhooooooo! E assim, um a um, meus preconceitos iam se desfazendo, e eu fui novamente me informando, me empoderando, assumindo a responsabilidade pela minha filha, pelo meu parto. Entendendo que Deus me deu um corpo perfeito pra parir, e que ao contrário do que foi ensinado para a minha geração, não temos nenhum defeito, podemos e SABEMOS trazer nossos filhos ao mundo! Mas acima de tudo isso, fui me dispondo a crer! Crer que o meu Deus é soberano, tem em suas mãos o controle de todas as coisas e sabe o que é melhor pra mim! E assim, o que aos meus olhos era loucura, virou possibilidade real. E pude viver a palavra que me dizia que a loucura de Deus é mais sábia que a sabedoria humana (1 Coríntios 1:25). Entender que aquilo que é loucura para os homens é sabedoria para aquele que crê, e que Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar as sábias, e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes.(1 Coríntios 1:27). Então, comecei a me preparar para um parto domiciliar planejado.
  Mas eu não tinha dinheiro lembra? É, não tinha. Mas sou filha do Rei dos Reis que me abençoou com as maiores riquezas que alguém pode ter nessa vida: FAMÍLIA e AMIGOS! E através de amigas muito amadas(cujas identidades serão preservadas) consegui montar uma equipe, e preparar todo o material necessário para trazer minha filha ao mundo com respeito e segurança. 
   Não dissemos nada a ninguém, não queríamos preocupar os outros, e ninguém entenderia, então evitava falar no assunto se me perguntavam o hospital, eu respondia o plano B(porque sim parto domiciliar tem plano B, para que uma remoção seja feita com tranquilidade e segurança caso necessário), se me perguntavam quem  era a médica respondia o nome da obstetra do pré natal, mas se me perguntavam quem faria meu parto... Ah! Essa eu amava responder! Doutor Rafah!(Acho que escreve assim rsrsrs) Jeová Rafah o Deus que sara! O médico dos médicos, amado da minha alma! Era somente Ele que eu desejava, era somente Dele que eu precisava! Tive uma gestação fisicamente saudável, mas bastante corrida, e no fim eu já estava exausta em todos os sentidos! Resolvi que ao menos as últimas semanas seriam de paz, e foram dias tão bons! Diferentes de tudo  que vivemos até ali.
   Por isso contrariando a maioria das gestantes eu não tinha pressa quanto ao nascimento de Eduarda, sabia que uma gestação saudável poderia durar entre 37 e 42 semanas mas me convenci que iria até 42 semanas, queria que fosse até 42 semanas! E hoje percebo que esse sentimento embaralhou um pouco minhas idéias no momento do parto. Sempre conversava com Eduarda, pedia a ela que se possível esperasse um pouco mais, que ficasse ali um pouco mais, mas que viesse no tempo dela, quando estivesse pronta. Dizia que ela podia vir qualquer dia menos dia 24! Rsrsrs E ela obedeceu a mamãe!
  No dia 22 de dezembro de 2012 acordei sentindo algumas contrações, mas como já sentia contrações de treinamento desde as 20 semanas de gestação não dei atenção. Levantei e fui tomar café da manhã, percebi que eram contrações diferentes das de treinamento, e percebi que estava em pródromos(período de preparação do corpo para o trabalho de parto) mas eu sabia que pródromos podem durar semanas então simplesmente ignorei. Lembrei que o conselho dado nos grupos de gestantes as mulheres em pródromos era sempre dormir para poupar energias para o trabalho de parto e foi isso que fiz, fui dormir! Dormi um sono profundo como poucas vezes na vida (e olha que gosto de dormir! rsrsrs) acordava as vezes com uma contração leve e pensava: É só treino! Virava pro lado e dormia novamente.
 Acordei as 18:00h com fome, tentei comer mas estava meio enjoada, não desceu muita coisa. As contrações aumentavam mas eram apenas desconfortáveis, mais incomodas do que doloridas, e ainda irregulares, eu dizia pra mim mesma: ainda vai demorar muito! Nem tá doendo! Sentei na bola de pilates e fiquei fazendo exercícios para favorecer a dilatação enquanto via TV. Precisei correr até o banheiro, sabia que diarreia era sinal de que o trabalho de parto estava se aproximando então pensei: É tá chegando mais perto, acho que amanhã engrena. Liguei pra Davi e pedi pra ele passar no supermercado, em seguida liguei para a enfermeira que iria me acompanhar, contei tudo que estava acontecendo e disse: Pode vir dormir aqui se quiser,mas se preferir pode vir de manhã cedo, tenho certeza que só entro em trabalho de parto amanhã. Insisti que só viesse no outro dia, mas ela muito sábia, preferiu dormir na minha casa, justificando que poderia ver a obra da casa que estava em reforma (perto da minha) e que não perderia a viagem caso não engrenasse. Então continuei vendo TV e fazendo exercícios na bola. Davi chegou, eu disse a ele que ficasse calmo,que a filha dele iria nascer mas ainda ia demorar, e eu tinha certeza que seria só no dia seguinte. Ele me olhou meio feliz e meio assustado! Rsrsrs Perguntou se eu precisava de alguma coisa, se eu queria ligar pra alguém, respondi que não, que como já havia dito iria demorar, a enfermeira estava a caminho e não tinha motivo pra alarmar ninguém a toa. Então ele foi preparar nosso cantinho, cumprir a lista de afazeres que eu(surtada) fiz com as coisas que desejava pra que tudo tivesse nossa cara no momento do parto. A enfermeira chegou, aferiu minha pressão, auscultou o coração da minha princesa e estava tudo perfeito. Jantamos, ela e Davi aparentavam estar cansados, disse a eles que fossem dormir que ia demorar e eu tentaria dormir também. Acordei as 04:00h com contrações bem doloridas e algo escorrendo pelas pernas. Chamei Davi, pedi que acordasse a enfermeira peguei minha amiga bola e continuei os exercícios no chuveiro quente. A água quente caindo na lombar foi o melhor alívio que senti na vida! Não sei quanto tempo fiquei ali, só lembro que a enfermeira ficou comigo, depois fomos para o quarto onde a piscina estava pronta mas não entrei imediatamente, fiquei de joelhos abraçada na bola, quando vinham as contrações gritava Daviiiiii! Rsrsrs E ele e a enfermeira vinham com massagens, carinho, água quente, e a dor passava
  Se eu disser que não senti dor estarei mentindo, sim doeu, uma dor completamente suportável mas doeu. Mas sofrimento no parto? Não sei o que é isso! Em nenhum momento ele esteve presente, fui cercada de amor, carinho e cuidados o tempo todo e principalmente amparada pela presença de Deus!
Sim doeu!

Mas não há dor que uma mão amiga não resolva!

  Uma música que amo diz: "Adorar é o que sei, adorar é o que sou" e essa foi minha realidade também no nascimento da minha filha. Por toda a gestação quando pensava nesse momento, em como eu desejava recebê-la nessa terra,  não conseguia pensar em outra maneira que não fosse em meio a louvores e adoração ao meu Deus. E assim foi! Em cada contração eu louvava ao Senhor, conversava com Ele, agradecia pelo corpo perfeito que me deu, pela oportunidade de trazer minha filha ao mundo. Entrei na piscina as contrações iam ficando mais fortes, eu mais cansada, a essa altura não queria mais nem sonhar em sair dali, nem ir pra hospital nenhum! Encontrei uma posição e dormia entre uma contração e outra.
Não acredita? Tá aí! É possível dormir entre as contrações.
  Pedi pra Davi avisar minha mãe e o restante da equipe. Alguém abriu a janela e eu vi o céu! O sol entrando pela janela do quarto, como aquilo me renovou! Começou a tocar um louvor que dizia" Pra te adorar oh! Rei dos Reis foi que eu nasci oh! Rei Jesus" Davi e as meninas cantavam baixinho e eu dizia: Senhor eu nasci pra te adorar, quero te adorar no nascimento da minha filha também! Quero que ela aprenda a te amar como te amo! Davi me abraçou, lembrei do nosso casamento, das promessas de Deus pra nós, senti vontade de chorar mas veio uma contração forte, mais algumas contrações e pouco tempo depois, no momento mais perfeito. Ao som do louvor que dizia" Quero ser como criança, te amar pelo que és, voltar a inocência e acreditar em ti. Não posso viver longe do teu amor Senhor" minha filha saiu do meu corpo pelas mãos do doutor Jeová Rafah e passou direto na água! Num impulso a peguei, nos braços, ela chorava forte mas logo se acalmou e me olhou de um jeito que eu JAMAIS poderia esquecer! Nos encontramos nesse olhar que mudou tudo! Ungimos nossa princesa e oramos agradecendo ao Senhor e entregando a Ele nosso bem mais precioso.
Momento inesquecível!
  Ela mamou ainda na piscina, e após o cordão parar de pulsar Davi orientado pela enfermeira o cortou. Todos os cuidados necessários com ela e comigo foram feitos após esse momento. Tomei um banho e em seguida o meu café da manhã amamentando, na paz da minha casa! Maria Eduarda nasceu em um lindo domingo de sol, as 07:00h da manhã do dia 23 de dezembro de 2012 com 3kg e 53cm. Muita gente ainda acha que não deu tempo de ir para o hospital, e a verdade é que não tínhamos intenção de ir, mas realmente não deu tempo, minha negação foi maior! Quando aceitei que estava mesmo em trabalho de parto ativo(que seria o momento certo para ir ao hospital) já não dava mais! E não me arrependo! Sei que após ler tudo isso muitos dirão que sou louca. Sei que após ler tudo isso muitos dirão que fui corajosa(e me chamarão de louca pelas costas como já fazem). Mas se apenas uma pessoa ao ler esse relato ousar viver os sonhos de Deus pra sua vida poderei dizer que valeu a pena escrever tudo isso. Viver os planos de Deus não tem preço! E isso foi só o começo dos dois melhores anos da minha vida! Ganhei uma filha, e com ela uma nova história de vida. Através dela me redescobri! Venci meus medos, sarei minhas feridas, superei obstáculos, descobri novos sonhos e objetivos. Ela foi, e é instrumento de Deus para me fazer forte em minhas fraquezas. E diante disso só me resta dizer:

Obrigada Senhor! Tua é a glória! A ti seja o louvor!

Parabéns Maria Eduarda! Seu nascer transformou nossa história!
Mamãe te ama e faria tudo outra vez por você!

"Sei que muitos vão dizer que há outro lugar melhor

Sei que muitos vão pensar que eu enlouqueci
Mas não há lugar de honra maior que o Teu altar

Tomo minha cruz e sigo a ti Jesus"

(Centro da tua vontade- Nivea Soares)

2 comentários:

  1. Fiquei imprecionada com o relato porque nao tinha muita informacao sobre ese tipo de parto q pode melhorar e muito o depois do parto para a mamae e o bebe achei muito interresante pois sei o q algumas amigas minhas sofreram no parto e teve ate uma da minhas melhires amigas que pederam o bebe pq demoraram a fazer o parto dela em tudocreio que Deus tem um proposito e agora sei que fomos criadas para parir de forma natural. Obrigada pelos esclarecimentos que Deus te abencoe ainda mas e que vc continue corajosa e guerreira.

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    1. Amiga anônima fico muito feliz em saber que de alguma forma pude contribuir. Infelizmente a violência obstétrica é uma realidade em nosso país, todos os dias mulheres e bebês morrem por falta de uma assistência digna. Mas Deus é soberano, e poderoso sobre qualquer situação, se fazemos a nossa parte em nos informar, Ele faz a parte Dele em nos ajudar. Vale a pena servir a Cristo! Obrigada por nos acompanhar aqui no blog! Beijos!

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